quinta-feira, 21 de março de 2013

Sócrates na RTP

Acordei e abri as habituais páginas de internet: e-mail, facebook, twitter, youtube e afins. Li as primeiras notícias e achei que, realmente, ainda não tinha acordado. Arrastei-me para a cozinha para um pequeno-almoço rápido que me forrasse o estômago o suficiente para poder tomar café e fumar um cigarro sem culpa. Voltei para ao computador e reli as notícias. Nada tinha mudado. Achei que precisava de tomar um duche porque, definitivamente, ainda não tinha acordado. "A água escorria-me pelo corpo" (frase típica de um mau romance que se preze e que sempre quis reproduzir) e assombrava-me a ideia de tudo aquilo que li ser real. Pensei que o 1º de abril estava próximo e que, provavelmente, poderia ser uma partida antecipada, não fosse a data ser retirada do calendário. Saí da banheira, sequei o cabelo ao som de uma música brasileira qualquer que, como nenhuma, me faz despertar. Vesti-me e voltei a ler as notícias. Nada tinha mudado. Continuava tudo lá: a perplexidade das pessoas, o amontoado de comentários, a proliferação de postagens sobre o assunto, a revolta dos contribuintes que foram prejudicados de uma maneira ou de outra pelo Engº (?) José Sócrates que, pasme-se, será comentarista do canal público de televisão e que viu a sua liberdade de expressão posta em causa pelo atual contratado aquando do seu cargo como Primeiro-Ministro deste país(?) . Não sei que mais diga que já não tenha sido dito nos tais comentários e postagens que hoje, qual vídeo viral, invadiram a rede. O tamanho descaramento, a falta de vergonha na cara destes aliens e a passividade do povo que assiste, impávido, a todas estas monstruosidades deixam-me sem ter o que escrever. Pelos vistos a indústria farmacêutica em França também não o quis ou o achou capaz. O que faz o cidadão? Volta para o país que ajudou a destruir para encher os bolsos com o dinheiro público. Sinto vergonha desta terra que se deixa embandeirar em qualquer cantilena de um qualquer corrupto. Sinto vergonha de uma estação pública, a quem não bastou matar a cultura e os programas que tinham alguma essência, e que agora contrata este ser que é totalmente desprovido de honra e pudor e tem a desfaçatez de encarar, como se nada fosse e nada tivesse feito, o povo que desonrou. Enojada e revoltada cogito cada vez mais voltar à terra onde, sem constrangimentos, fui imensamente feliz. Vou ligar o youtube, ouvir uma voz com sotaque doce e imaginar que um dia - talvez mais rápido do que imagino - tudo à minha volta será assim: um paraíso tropical.

sexta-feira, 15 de março de 2013

In Revista 2, 10-03-2013, por Alexandra Lucas Coelho

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pérolas...


"O meu mundo tem estado à tua espera;
mas não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas.
Sei que um poema se escreveria entre nós dois;
mas não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.

Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria.
Não me perguntes porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera [...]"

in O Canto do Ventos nos Ciprestes, de Maria do Rosário Pedreira

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Deixem-me em paz

Lisbon Revisited (1923)NÃO: Não quero nada. 
Já disse que não quero nada. 

Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 

Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 

Que mal fiz eu aos deuses todos? 

Se têm a verdade, guardem-na! 

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 

Não me macem, por amor de Deus! 

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 

Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. 
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 

Ó céu azul — o mesmo da minha infância — 
Eterna verdade vazia e perfeita! 
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflete! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! 

Álvaro de Campos, in Poemas

Quem quer que seja...


Álvaro de Campos

LISBON REVISITED (1926)


Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver na rua.
Não há na travessa achada número de porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta — até essa vida...
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas coortes por existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim —
Um bocado de ti e de mim!...
26-4-1926
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
  - 249.

Um país cheio de história


terça-feira, 10 de julho de 2012

Gospel

Não sou evangélica, não sou católica e talvez nem cristã (ou serei?). Mas estes hinos, normalmente cantados nas assembleias evangélicas, emocionam-me e arrepiam-me. Muitas vezes ajudam-me a libertar algumas opressões que nem sabia existirem em mim. Partilho por mim e para quem quiser.



E por hoje é tudo... (será?)